Entrevista com Henrique d’Avila
Entrevista com Henrique d`Avila – 07/ 11/2013
Conheci o Henrique “Hique” d`Avila há quase 20 anos atrás numa fila esperando para entrar num workshop de música. Trocamos poucas palavras mas percebi a sua paixão pela guitarra e como a música era uma ambição na sua vida – encontrara um parceiro de estudo. Durante muitos anos trocamos experiências musicais e fortalecemos uma amizade que apoia até hoje as nossas carreiras e as nossas vidas.
Um guitarrista com uma técnica apurada, equilibrada com bom gosto e muita pegada. Transita entre diversos estilos, do heavy ao pop, sem perder a naturalidade. Tem uma identidade forte marcada pelos fraseados palhetados e da escolha de notas, sempre muito inteligente.
É o guitarrista da banda de metal Stormental com a qual já fez uma turnê por diversos países da Europa, gravou um DVD num projeto inédito no Brasil com um grupo de dança contemporânea e acaba de voltar de uma turnê com 28 apresentações no estado de Santa Catarina.
Conheço boa parte da sua trajetória musical porque estive lá, seja ao lado ou participando de alguma forma. Mas fiz essa entrevista para descobrir aspectos dos quais nunca conversamos, por isso afirmo que essa conversa também é pra mim.
Olá Hique! Qual foi o momento da tua vida que te motivou a começar a tocar guitarra?
Minha motivação veio através da curiosidade em descobrir como eram tocadas as músicas que eu gostava de ouvir. Era realmente gratificante conseguir reproduzir algo. Posso dizer que é assim até hoje.
Então em que ponto você mudou a sistemática do estudo indo de tirar músicas para entender o que estava tocando?
Comecei a praticar escalas, iniciando pela maior. Lembro de ter ouvido “Liberty” de Steve Vai e me identifiquei com a escala que ele utilizou na construção do tema. Posso dizer que foi onde comecei a compreender aquilo que tocava.
Ao entrar na faculdade de música aprofundei meus estudos através de análises de diversos estilos musicais, desta forma concretizei o meu entendimento sobre o que eu estava tocando.
E em todos esses anos da formação da sua personalidade profissional, quais trabalhos você destaca?
“…tivemos a oportunidade de abrir o show de Paul Gilbert…”
Posso destacar dois momentos. O primeiro foi em São Paulo, onde participei de uma gravação no Mosh Estúdios com grandes músicos. Entre eles os irmãos Andria e Ivan Busic, integrantes do Dr. Sin, e o vocalista Leo Belling, da banda Republica, que tocou recentemente no Rock In Rio.
O segundo foi a “Mental Live Tour 2008”. Turnê européia com a banda Stormental, onde tivemos a oportunidade de abrir o show de Paul Gilbert, em Varsóvia na Polônia.
Como foram feitas as escolhas que direcionaram a tua realidade profissional? Além da universidade de música você fez algum tipo de planejamento para o desenvolvimento da tua carreira?
As escolhas foram acontecendo naturalmente. Geralmente aparecem através de convites para trabalhos, sejam eles com bandas, gravações ou aulas.
Sobre os planos para o desenvolvimento da carreira, posso dizer que tenho procurado cada vez me tornar mais musical. Busco isso tocando com várias bandas de estilos diferentes. Dessa forma acabo ampliando principalmente meu conhecimento sobre repertório, harmonia, e estética musical. Depois posso aproveitar esses aprendizados para ministrar aulas de guitarra.
Além de tocar em bandas, gravar e dar aulas, você exerce alguma outra atividade como músico, algo que vá além de tocar guitarra?
Possuo um estúdio para ensaios. Geralmente trabalho lá a noite, onde recebo diversos tipos de bandas com as mais variadas formações.
Você entrou no Stormental substituindo o guitarrista original da banda. Como foi o processo de adaptação tocando linhas que não eram suas e como você imprimiu a própria identidade na banda?
No início tive dúvidas com digitação, realmente não sabia como tinham sido gravadas algumas partes de certas músicas. Rafael Scopel, o antigo guitarrista, me ajudou muito a decifrar esses caminhos. Algumas vezes eu estava tocando de forma bem mais complicada do que realmente precisavam ser!
“…reescrevi metade do solo, deixando-o mais a ver com o meu estilo de tocar.”
Minha identidade na banda está presente nos arranjos das novas composições e também em alguns solos das músicas mais antigas. Por exemplo, “A Miserable Life”, reescrevi metade do solo, deixando-o mais a ver com o meu estilo de tocar.
Você é um guitarrista que tem uma técnica sólida e bastante desenvolvida. O caminho natural de outros guitarristas com esse perfil foi a de compor e lançar albuns instrumentais solo, você pensa em seguir essa direção?
Com certeza sou muito fã de albuns solo de guitarristas e gostaria de fazer o meu também. Sinceramente não sei qual direção tomaria este album, pois tenho muitas influências e gosto de muitos estilos musicais, mas tenho isso como meta futura.
Além da técnica o músico geralmente procura desenvolver vários outros aspectos como o controle rítmico, o entendimento teórico, a improvisação, o domínio do equipamento e do timbre entre outras coisas. De que forma você estudou cada uma dessas ramificações?
Tenho como influência maior o rock, e posso dizer que o meu controle rítmico veio através de ideias e estudos voltados a este estilo. Devo muito ao rock progressivo, que é riquíssimo em ideias rítmicas que me agradam muito. Também posso citar o estudo teórico, onde a leitura é fundamental para o conhecimento de novas células rítmicas.
O entendimento teórico e o estudo de improvisação vieram através das aulas de harmonia que tive na faculdade, e aulas particulares de guitarra. Estudei repertório jazz com dois professores que me ajudaram muito a entender os caminhos harmônicos. O mais interessante disso é que posso utilizá-los para qualquer tipo de som que estou tocando, e muita gente não imagina o quanto isso é importante.
“…o timbre está mais na mão do guitarrista do que no equipamento…”
Sobre o timbre posso dizer que está mais na mão do guitarrista do que no equipamento em si. Tenho preferência por som distorcido. Mas em relação aos equipamentos, aprendi muito com a troca de informação com amigos, tocando e experimentando pedais, guitarras e amplificadores.
Com a internet conquistamos muito mais acesso a informação, isso de alguma forma mudou a tua sistemática de estudo? E como você encara o aprendizado atual de música, os processos mudaram?
Minha sistemática de estudo teórico ainda é bem parecida da que quando iniciei há 20 anos. Prefiro utilizar e revisar livros voltados a teorias musicais em geral, ou outros que abordam algum estilo específico de tocar guitarra. A internet me ajuda a complementar os estudos assistindo a vídeoaulas ou simplesmente vendo shows que me interessam para o desenvolvimento artístico em geral.
Sobre o aprendizado atual de música, posso exemplificar a área em que trabalho, que é com aulas particulares de guitarra. Hoje temos mais dinamismo na hora de lecionar. Isso ocorre devido a facilidade de se ter equipamentos de gravação (home studio), exemplos online, permitindo que o aluno tenha uma visão mais ampla do processo, não ficando restrito apenas ao conhecimento do professor.
E como você vê o mercado musical atual no Brasil e no mundo? É possível ainda vender música e ter projeção como artista ou você acha que esse perfil está fragmentado? O músico precisa diversificar as opções para poder sobreviver?
Falar sobre mercado musical é uma questão bem ampla. Vou focar na profissão de músico em si, onde acredito que as oportunidades são parecidas em todo mundo. As conquistas e as desilusões estão presentes no nosso dia a dia, independente do ramo, nível e local de atuação em que se encontra o profissional. Tive a experiência de trabalhar num grande centro como São Paulo, e agora em Florianópolis. Percebi que quanto maior o centro, maior o mercado e as oportunidades, mas, ao mesmo tempo, maior a concorrência para se conseguir um espaço.
“É necessário estar reciclando ideias para conseguir gerar um conteúdo…”
Quanto à questão de vender música e ter projeção como artista, acho que é possível, mas estes fatores podem se concretizar se diversificarmos as atividades que o músico exercer. É necessário estar reciclando ideias para conseguir gerar um conteúdo que possa atrair o público em geral. A diversificação das atividades também ajuda a mudar a rotina que as vezes se torna maçante.
Quais são os teus projetos futuros, existe alguma coisa traçada? O que você espera da tua carreira, quais são as tuas ambições?
Tenho um projeto em andamento com a banda Stormental chamado “4 Seasons 4 Reasons”. A ideia é que cada integrante da banda componha uma música, produza as gravações e dirija um vídeo inspirado em uma estação do ano. Três músicas já foram lançadas, faltando apenas a da primavera, que será composta por Andrei Leão, o baixista. Para finalizar vamos lançar as quatro músicas em vinil e também fazer o lançamento ao vivo.
Outro projeto é o “Perception of The Other”, espetáculo que junta dança contemporânea com o heavy metal, no caso, o Stormental. Acabamos de fazer uma excelente turnê de 28 apresentações pelos SESC de Santa Catarina. Temos como ambição levar o espetáculo para a Europa.
Pra 2014 pretendo fazer parcerias com guitarristas e lançar músicas e videos para divulgação. Também estou concretizando a parceria com os pedais da AS Company, empresa de São Paulo. Estou ajudando na elaboração dos mesmos.
Participação do Hique no solo da música “One Last Day” do meu album DEEP (2:11s-2:38s):
Sites:
Guitarras
- Fender Stratocaster American Standard ‘91
- Ibanez RG 1527 – 7 cordas
- Jackson JDR 94
- ESP LTD EC-100QM com sistema MIDI
- Ibanez RG Japan
- Guitarra Fretless
- Lap Steel 6 cordas
Amplificadores
- Cabeçote Carvin Legacy
- Caixa Carvin 4 X 12 com falantes Celestion Vintage 30
- 2 Marshall Valvestate 8080
- Fender Ultimate Chorus
- Vox Lil’ Night Train
Efeitos
- Yamaha DG Stomp
- Roland GR-55 MIDI
- Fulltone GT-500
- Pro Co RAT 2
- AS Booster
- AS Tube
- Boss Chorus CE-5
- Boss Tremolo TR-2
- MXR Phase 90 Van Halen
- Line 6 Delay DL6
- Dunlop Cry Baby Classic
- Afinador Korg DT-10
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