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As Verdades da Música

De forma alguma pretendo com esse texto impor uma opinião ou reprimir outras formas de pensamento, outras lógicas. Estou acima de tudo levantando tópicos para a reflexão e discussão dos processos de aprendizado, execução e apreciação musical. Todos os meus anos de estudo de guitarra e música criaram condições para que eu delineasse um pequeno conjunto de regras que me servem e que me ajudam a entender a sistemática do desenvolvimento e da imersão musical. Da mesma forma que minhas vontades não são estáticas, que meu gosto muda, que minha relação com o mundo é dinâmica, esses tópicos no futuro podem mudar.

Esse texto será atualizado periodicamente. Vou usar cada tópico desse como título para uma série de discussões. Para participar basta clicar no link abaixo de cada item.



Discussão:



Qual é a sua opinião sobre esse assunto? É possível dominar a maioria das técnicas, linguagens e lógicas musicais? É possível alguém ser bom em quase tudo?

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Música por si só é um termo muito amplo, abrange todas as linguagens musicais, as estéticas culturais, a tonalidade e a modalidade, as afinações, o timbre dos instrumentos e a riqueza das articulações, a interpretação entre outras coisas. Se separarmos uma pequena fatia desse montante que é o estudo da guitarra, continuamos com uma infinidade de possibilidades.

Se levarmos em conta todos os aspectos do estudo e amadurecimento musical como o controle da técnica, do rítmo, o entendimento dos processos e relações, a criação que vai do improviso a composição, o balanço entre o intuitivo e o racional, fica impossível estudar tudo numa vida só.

O músico precisa desde cedo escolher uma direção. Deve entender quais são os seus interesses, quais ramificações são naturais e direcionar o estudo para atender o seu potencial.

Perdemos muito mais tempo para aprimorar as coisas em que somos ruíns do que para aprimorar as coisas em que já nascemos bons. Procure entender o que você é como pessoa, entender o que você está se tornando como músico e o processo do desenvolvimento será natural.

É claro que existem aspectos que todos devem dominar como a pulsação, a afinação, mas para todos os outros aspectos basta descobrir o que faz parte de você.

Se algo é natural, parece fácil, você ainda terá que investir centenas de horas para desenvolvê-lo. É a lógica da especialização, de ser único dentro do mundo da música assim como você é único como pessoa. De compreender que, para se expressar no meio você tem que criar uma identidade, um perfil que seja um reflexo de você mesmo.

Muitos músicos são únicos na forma de tocar pois aprenderam desde cedo a criar uma identidade, reconheceram seu papel dentro da arte musical e acharam um lugar dentro do emaranhado de possibilidades técnicas, melódicas e estéticas.
O músico que se destaca é aquele que consegue criar algo novo, que nunca foi feito, ou dar uma direção diferente ao que já existe. É o indivíduo que faz a música se moldar com a sua essência, que tem um caráter forte e imprime isso em tudo que cria.
Vou listar alguns guitarristas e as técnicas que foram usadas como veículo para criar o perfil de cada um…


Como é a sua rotina de estudo? Como você organiza os tópicos ao longo do dia e da semana? Quais assuntos você estuda?

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Pra nos tornarmos músicos completos precisamos estudar assuntos que vão além do domínio articulatório do instrumento. Poder criar música é o resultado da vivência musical e da compreensão de cada camada, do controle de cada aspecto que faz uma melodia e sua relação com a harmonia existir. É entender que a música é uma manifestação da alma, mas que segue estilismos culturais e os clichês de uma sociedade.

O produto musical é a soma de todos os fragmentos que possibilitam a sua existência, é a combinação de inúmeros aspectos que devem, ao longo dos anos de estudo, serem compreendidos e manipulados pelo instrumentista. Quando as limitações do instrumento parecem desaparecer o que surge é a música no seu formato mais puro, a representação do indivíduo.

Quando estudamos fazemos de forma pontual, nos focamos em certos assuntos para dominar o conceito. Depois trabalhamos com a interação das idéias, como uma complementa a outra, de que forma estão relacionadas. Aprender é isso, colocar um bloco de cada vez para construir o todo, onde um assunto se apoia no outro.

Se formos listar todos os pontos vitais para o estudo de música já levaria o dia de estudo. São tantas técnicas, divisões rítmicas, dinâmicas, linguagens, caráter, andamentos, interpretações, e além disso como cada assunto interage com o contexto musical.

Nosso cérebro leva tempo para assimilar o conteúdo. Temos 3 tipos de memória, a de curto prazo, médio e a de longo prazo. A primeira serve para as coisas do dia-a-dia, tudo que só tem importância momentânea. A memória de médio prazo é duradoura mas pode desaparecer com o desuso. A de longo prazo faz parte da nossa essência, da constituição do ser e do seu comportamento.

Se estudarmos um assunto rapidamente sem buscar suas relações, quase de forma abstrata, isolado de um contexto ou aplicação, tão rápido quanto entrou irá ser dissolvido na nossa memória. Será tratado como necessidade ocasional, importante para servir o momento e nada mais. Para assimilar de verdade temos que construir ligações fortes, anexar a nova memória com outras memórias já incrustadas. Tem que ser recorrente e usada de várias maneiras pois assim garantimos um lugar no disputado arquivo da lembrança.

Temos que ser seletivos e escolher o que vamos estudar a cada dia de estudo. É essencial destrinchar, abordar de vários ângulos, relacionar, vivenciar, compreender e manipular. E acima de tudo entender que precisamos de tempo para aprender.


O que define “melhor”? É possível ser um bom músico sem dominar os aspectos vitais da técnica?

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Acredito que a palavra indivíduo é uma das melhores para definir cada um de nós e a forma com que lidamos com as situações do cotidiano, que nos relacionamos uns com os outros e que fazemos arte. Cada pessoa é diferente e o que nos faz únicos caracteriza a nossa identidade definindo a nossa essência.

Aprender uma habilidade não é apenas dominar a mecânica motora mas tudo que está relacionado com ela, o contexto, o esperado e certas vezes o inesperado. É preciso ao menos a disciplina do contato esporádico, a otimização dos processos de estudo, a curiosidade, a busca pela novidade, o ecletismo, a humildade para aprender com outros, o hábito, entre inúmeras outras coisas.

Saber tocar guitarra bem e fazer música com qualidade vem da paixão pelo instrumento e o que ele representa, mas vem também da dedicação quase exclusiva. Vem do suor das horas de estudo muitas vezes trabalhando aspectos árduos, ou mesmo monótonos. Cresce com a autoavaliação de toda a sistemática de estudo, mas também do papel do músico dentro do que faz. Amadurece através da vivência, da interação, do tempo e das mudanças da vida.

A música exige demais, não apenas o nosso físico mas a nossa condição de ser. Ela faz parte do que pensamos, da forma que agimos, das nossas emoções. É um elo, um caminho para a autodescoberta e um reflexo do nosso espírito.

Para dominar toda a ciência musical, a mecânica musical, a emoção musical, o “instrumento musical” ou qualquer uma de suas facetas precisamos respirar música, nos abdicar de certos aspectos da nossa vida e guiar o aprendizado. O ponto correto do equilíbrio é quando descobrimos o quanto queremos abrir mão, quanto de nós mesmos é música e quanto é algo diferente. Ser justo consigo e entender que a sua individualidade cria a diferença entre o “desejo de ser” e o “já ser”. E nesse caso fica fácil de aceitar que outra pessoa, na sua forma única de ser, pode ser mais músico que você, não música.

Música todos somos, a partir do momento que escutamos e reproduzimos sons, que entendemos a concepção, fazemos parte dos aptos. Agora, no universo musical, se compararmos os detalhes sempre haverá alguém de domine algo melhor, ou mesmo que domine um conjunto de coisas melhor. Mas música não é sobre isso.


Você tem disciplina para estudar? O que te faz ficar motivado?

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A idéia por trás dessa frase é um dos catalisadores do estudo da guitarra – a motivação. Para aprender o instrumento é necessário dedicação, não exclusividade, mas ao menos um certo grau de compromisso. Mas o que nos faz pegar a guitarra e quebrar as barreiras do desconhecido? Primeiro e acima de tudo é a paixão pelo instrumento, o que ele representa e a música que faz. Também é a nossa ambição, a vontade de atingir um sonho, uma meta. Por último é a necessidade, o dever de cumprir os compromissos que nos permitimos ter quando deixamos a guitarra fazer parte da nossa vida e até da nossa carreira.

E a disciplina? O próprio rigor da palavra cria a desmotivação, parece separar o prazer do estudo. Parece quase uma penitência a qual devemos enfrentar, onde os méritos são a conquista do novo. Essa disciplina não deverá ser a pontualidade do momento de estudo ou o cumprimento de horas, mas a de criar uma atmosfera de motivação, e com ela tudo surge naturalmente.

E uma boa motivação não é apenas agregar o que nos faz bem, o que dá prazer, mas afastar qualquer pensamento que nos permita aceitar o contrário. Entre elas a baixo autoestima quando nos comparamos aos músicos mais experientes, ou mesmo aos gênios do meio.

O que realmente importa é cada um dos passos que damos durante o processo de estudo, cada fragmento aprendido, cada experiência vivenciada. E pra isso olhe onde você quer chegar mas nunca esqueça de onde você partiu, valorize a distância caminhada.


Você acha fundamental que um músico estude teoria?

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Primeiro temos que entender o que é a teoria musical e de que forma ela tem sido utilizada como ferramenta para a compreensão e discussão musical.

A música, desde a Grécia de Pitágoras, começou a ser estudada e analisada através de vários aspectos como a matemática, a emoção, o comportamento humano e a ética. É da natureza do homem tentar compreender para poder controlar e o uso de regras foi a forma de criar atalhos e não repetir os erros.

A estética de uma sociedade imprime nos seus indivíduos o gosto do todo, a média que reflete o que é aceito pela maioria. Um livro de teoria é a representação desse momento, é uma forma de declarar o que foi vivenciado, discutido e aceito por aqueles que produzem e por aqueles que consomem.

O indivíduo muda e a sua relação com a sociedade não é estática, sua influência carrega o apego cultural para novas fronteiras. As pequenas concessões impulsionam o gosto que se distancia da referência inicial – o que antes era aceito hoje pode ser rejeitado, o que era rejeitado pode passar a ser aceito. E é dessa forma dinâmica que a música evolui, é experimentando as roupas das novas linguagens que consegue criar um momento único.

Então a teoria leva em conta o passado mas é a descrição do presente. É a coleção de várias vivências, das experiências dos que criam em sociedade. E serve pra isso, uma forma de encurtar caminhos para que o indivíduo não precise reviver o processo de todos.

A teoria serve para que o estudante entenda soluções que na maioria das vezes não conseguiu encontrar através da experiência musical, é uma forma de conseguir distinguir o que é o comum para a partir daí poder ser diferente.

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