Entrevista com Bruno Lara
Entrevista com Bruno Lara – 01/06/2013
Conheci o Bruno Lara no arquivo de guitarristas da revista Guitar Player. Entrei em contato com alguns dos nomes listados para divulgar o meu trabalho instrumental e iniciar um diálogo sobre guitarra e música e obtive uma resposta direta dele, que logo se tornou mais do que uma conversa, uma troca de experiências. Foi através dos seus videos e gravações que entendi que a sua abordagem musical era parecida com a minha e que via na guitarra algo mais que um simples instrumento, mas a forma de extrapolar as barreiras da criatividade, sempre buscando entender a ausência de limites no processo de criação.
Guitarrista ainda novo, com apenas 28 anos, mas uma ferocidade em produzir música acumulando 8 albuns e um DVD gravados. Mistura diferentes linguagens como o rock, a Bossa, o jazz numa fusão que define a sua forma de tocar.
Já tocou em eventos marcantes como o Reveillon de Copacabana, o carnaval do Rio de Janeiro na Lapa e na Rádio MEC e tem uma visão sólida do seu perfil profissional com opiniões fortes e muito caráter.
Nessa entrevista falamos um pouco da sua história dentro da música, como ele conseguiu desenvolver a identidade musical, processos de composição, mercado e postura de trabalho além das suas expectativas para o amadurecimento da sua carreira musical.
Bruno, obrigado por aceitar o convite. Você é do Rio de Janeiro, a terra do Choro, do Samba, da Bossa e da praia. Por que guitarra?
Primeiramente queria agradecer ao seu gentil convite em poder compartilhar um pouco do que aprendi e aprendo no mundo da Música/Guitarra.
Acho que o culpado de tudo foi o Rock, mesmo numa cidade tropical e cheia de Swing, minha mãe antes mesmo de eu nascer já colocava rock na rádio para eu ouvir. Então, posso dizer que a primeira música que ouvi foi “Billy Idol em Eyes Without a Face”, que já tinha uma guitarra base de respeito do Steven Stevens.
Com o tempo e a pré-adolescência chegando não conseguia ver a guitarra desvinculada a esse estilo, o Rock, esse é o primeiro ponto no qual me chamou a atenção desde os meus 12 anos de idade. Eu me lembro que quando o pessoal ia pegar uma praia, o Rock era a nossa “trilha sonora”, estava em muita evidência nas rádios e a MTV sempre colocava alguns clipes em que eu ficava fascinado e queria aumentar o volume da TV, aquilo foi uma influência.
Como fui criado na Zona Norte e Oeste do Rio, mesmo com o cenário Rock Underground muito presente, já ouvia alguns sambas e já sabia alguma coisa de Bossa Nova, porém não entendia nada sobre a complexidade rítmica e harmônica de cada estilo.
“Achei no Rock uma forma direta de abordar e pesquisar sons…”
Achei no Rock uma forma direta de abordar e pesquisar sons, sempre fui fascinado por essa infinitude da guitarra: fuzz, overdrive, efeitos. Me deparei com um instrumento de difícil interação, nunca ouvi um violino ou outro instrumento ter aquela pegada.
A guitarra possui variedades de timbres infinitas e combinações/modelos bem versáteis, enquanto o bandolim, violão, cavaco possuem um estética mais fácil de ser equalizada, pelo menos na minha experiência, eu tive essa resposta.
A guitarra é um desafio, sempre muito mutável e bipolar, o fato dela soar tão doce e agressiva sempre me chamou a atenção, ela é como um cavalo selvagem, seja em que estilo estiver tocando, se você não ficar ligado ela te joga no chão.
Interessante essa tua analogia que remete a força da guitarra e sua imponência. Curiosamente foi a intensidade do instrumento que me atraiu, e tento até os dias de hoje também domá-lo.
Agora, quando a guitarra passou a ser um instrumento de estudo, quando a descoberta intuitiva virou uma sistemática de estudo?
Eu comecei auto didata em um violão velho de um amigo, tocando algo como “Parabéns para você!”, não lia partitura e nem tablaturas, só conseguia entender por um sistema que dizia a corda e a casa da guitarra, tipo: 52 (corda 5 casa 2).
Via as pessoas tocarem uns acordes e solos com alavanca, queria fazer aquilo, estava completamente obcecado.
Como não tinha violão, cortei a Juba e comprei um violão para mim, ali eu comecei a estudar, passava horas do dia ouvindo e tentando tirar músicas ou inventar em cima delas , nunca tirava igualzinho, mas o fato de não tirar igualzinho me dava possibilidades de improvisar, sempre gostei disso.
Aos 15, comecei a ter contato e entrar em bandas, e comecei a notar minha dificuldade com Ritmo. Queria tocar mais rápido do que podia , e a minha guitarra base era horrível, então eu comecei a tirar muitas bases e isso deixou os meus solos mais pausados e com o ritmo melhor, mas ainda precisava aprender a interpretar notas.
Comecei a ter aulas particulares com um professor espanhol que já queria passar lições de flamenco e escala menor harmônica. Eu me assustei com aquilo, pois era um universo muito diferente e eu queria fazer bends e outras coisas, o violão flamenco não me dava essa oportunidade, mas me deixou mais disciplinado em relação a elaboração de idéias musicais.
Em seguida aos 16 anos me mudei e vim parar na Zona Sul do Rio e comprei o meu primeiro amplificador e uma Strato da Yahama, aí sim comecei a entender como era o som do Bend em uma guitarra, mas ainda estava querendo ser o Steve Vai.
“…mas ainda estava querendo ser o Steve Vai.”
Eu toquei em festivais, Sarais de colégio e concurso de bandas, sempre teve aquela coisa de duelo de guitarra, de quem tocava mais rápido e eu tinha medo de alguns amigos que tocavam muito rápido. Comecei a me frustar de querer tocar rápido o tempo todo e achei um professor que me deu outra diretriz ao instrumento, ele me apresentou o “Blow by Blow” do Jeff Beck.
Eu mudei completamente a forma de estudar guitarra, ficava umas 6 horas por dia estudando e tentando improvisar, mas eu não sabia explicar o que tinha na guitarra do Beck que em uma nota ele fazia tanta coisa.
Continuando os estudos em aulas particulares, bandas de Baile, eu via guitarristas mais experientes tocarem de uma forma mais lenta e expressiva e comecei a querer reduzir a minha ansiedade na hora de estudar. Comecei um cronograma de estudos junto com as aulas particulares de que eu teria que formular uma composição ou improviso com pouca nota, melhorar o ritmo e aprender novos acordes, tudo de uma forma muito prática e ao mesmo tempo intuitiva.
Antes de usar o metrônomo tive que aprender a respeitar o meu ritmo interno, só depois disso que o metrônomo apareceu na minha vida.
Já com 20 anos, comecei a ouvir Jazz e Blues, ia a shows do Pascoal Meirelles, Nelson Faria, Big Gilson, Celso Blues Boy.
Eu já sabia algo sobre melodia, ritmo e harmonia.
Aprendi nesses shows sobre outra coisa que faz muita diferença, a dinâmica. Eu tocava tudo muito reto e não sabia o que estava errado nos estudos, e me perguntava porque outros guitarristas soavam tão surpreendentes se eu usava uma idéia parecida, era a tal da dinâmica que eu não tinha.
Comecei a entender um pouco de fusion, que era muito avançado, mas queria tocar esse estilo!
Em 2007, tive aulas com o Nelson Faria e de cara comecei treinando “Blue Bossa”, só que eu não sabia nada sobre tensões e meus improvisos eram 90% em cima de padrões, então ele foi me passando a formação de acordes com tensões e inversões e eu fui tentando me libertar do vício de padrões melódicos em 90% do tempo.
“O maior aprendizado e escola musical foi o estúdio…”
O maior aprendizado e escola musical foi o estúdio. Comecei a gravar meu primeiro Cd em 2007, então eu ouvia o Nelson Faria dizer o que não estava soando bem, que estava fora do ritmo e tudo mais, isso tudo foi moldando meu estilo de tocar, todas as exigências que me foram ditas e que eu me cobrava, mudou o timbre, fraseado e todo o contexto do que eu ouvia sobre música.
Comecei a me gravar o tempo inteiro, ficava 6 hrs por dia gravando e vendo como soava, depois ouvia e pensava no que poderia melhorar e assim eu via de fato o que estava pendente.
Com esse desenvolvimento o passo seguinte foi entrar em uma escola de música e formalizar os estudos. As mesmas notas em vários estilos musicais – Me assustei em ver um cara tocando “Stella by Starlight” no Cavaco, eu ainda estava com preconceito e fechado em ouvir que música era algo muito maior do que eu pensava.
Fui vendo e continuo a aprender a ver na pauta as notas, ditados rítmicos, melódicos e principalmente para onde eu ia com as harmonias e como reconstruí-las (Harmonia funcional).
Isso abriu muito a minha cabeça para poder tocar Fusion e outros estilos, até mesmo incrementar no Rock e no Blues algumas idéias e fraseados, mas sempre praticando. Testava e testo tudo aquilo que me ensinavam/ensinam.
Nunca fui um cara tão “disciplinado” e sempre questionei muito, mas a minha curiosidade e vontade de aprender sempre me estimulou em buscar e desenvolver uma forma de tocar e misturar estilos.
Muito legal Bruno, observando os teus anos de relação com música é fácil perceber que a busca pelo conhecimento musical te fez expandir o vocabulário e se aventurar em linguagens que não faziam parte do teu comum. Percebo como a tua intuição teve uma representação importante no desenvolvimento da tua musicalidade e como a improvisação ocupa um espaço importante. Quando você sentiu necessidade de converter tudo isso num resultado palpável, em músicas com a tua assinatura em um album pronto?
Sim Denis, sempre quis e continuo pesquisando, até misturar o que adquiri com uma nova abordagem. Música é um desafio e realmente a intuição, improvisação, tem um lugar especial no que faço.
Antes de fazer o meu primeiro Cd – “O que é isso?” (2008), eu pesquisei bastante sobre Baião, Frevo, Bossa, Rock, Blues, Fusion Rock, etc.. ouvindo até os próprios guitarristas Brasileiros, tanto o pessoal que tinha um “Approach” mais Jazzy e o pessoal mais Rock, eu fui vendo aonde eu poderia me encaixar nessa mistura.
De fato a princípio eu poderia ser inserido dentro do que se chama “World Music”, mas aproveitei o Rock ‘n Roll e procurei inserir outros estilos para um caminho mais íntimo, sempre procurando e amadurecendo a minha bagagem, queria dar uma modernizada com a minha digital!
No final de 2006 eu fiz uma Demo, mas não fiquei satisfeito com o resultado, já estava com um material bem diversificado, mas queria misturar mais as idéias, então se passou um ano e fui compondo e recompondo, sem pensar no que poderia se transformar aqueles temas, fui modificando algumas idéias e harmonias.
Mesmo com um certo receio, senti que estava pronto para arriscar, mas queria que alguém colocasse um tempero a mais nessa fusão.
“Daí convidei o Nelson Faria para arranjar o disco…”
Daí convidei o Nelson Faria para arranjar o disco e várias pessoas de diferentes formações musicais para complementar o som, acho que isso foi um divisor de águas. Ele inseriu conceitos mais jazzísticos nas músicas e eu liguei meu overdrive, usando o meu fraseado e ao mesmo tempo vendo como cada um interpretava e improvisava.
Poder ouvir diferentes ritmos e pessoas de estilos variados, fizeram um caldeirão sonoro muito bacana, daí em diante eu fui amadurecendo essa trajetória que considero eterna.
Como você considera o resultado desse album, foi uma forma de se auto-descobrir como guitarrista, de entender a sua identidade musical, ou ele tomou uma direção que foi além do seu controle com a inclusão de tantas participações? Em algum momento o album ganhou vida própria e tomou um caminho que era desconhecido para você ou o processo de produção controlou isso?
O que considero importante em todo esse processo de gravação dos álbuns foi que eu tinha uma idéia inicial mas eu queria é correr o risco, colocar harmonias e concepções que fossem fora do que eu conhecia, deixei todos os músicos bem a vontade nesse ponto. Tal canção poderia ser mais Rock, mas se alguém falasse: “Ei, que tal colocar um maracatu no meio desse riff?”, eu não teria problema algum com isso.
É claro que apesar das diferenças os discos tem uma unidade, mesmo que soe diversificado, não considero um disco de rock, mpb, jazz, são discos de música instrumental com influências desses e outros estilos.
“Isso fortaleceu a identidade musical…”
Isso fortaleceu a identidade musical e ao mesmo tempo me obrigou de uma forma muito positiva a ir a lugares que eu não conhecia!
Desde 2007 eu venho gravando, compondo, produzindo e interpretando músicas conhecidas, já tenho 8 álbuns e 1 DVD. A cada disco você pode perceber que a mistura e o risco vão ficando maiores, desde discos com presença de metais, cordas, até uma coisa mais cru ou psicodélica.
Destaco esse recente álbum, intitulado “Nix”, como um novo caminho, pois tem um pouco de tudo que fiz anteriormente, com um nível de dificuldade maior, além de ser desafiador interpretar mais canções conhecidas do que próprias, isso é algo inédito na minha discografia.
Então podemos dizer que tuas composições não são apenas o resultado do teu estudo, mas fazem parte desse processo. E a abordagem ao vivo, você mantém essa mesma dinâmica?
Sim, elas são uma mistura de tudo que estudo mais o meu processo de maturação como guitarrista, com certeza!
Ao vivo o som geralmente é em quarteto com guitarra, baixo, teclado e bateria, que é a base do meu som.
Mantenho as dinâmicas e o repertório é bastante diversificado, eu comparo a uma aula de ginástica, em que começa com uma balada a 115 bpm, depois um frevo a 130 bpm, depois um blues a 140, depois um jazz a 80. É subir e descer ladeira, sempre coloco músicas variadas e quando vejo uma composição que não seja minha eu gosto de reharmonizar para ficar dentro do jeito que eu toco, dando uma nova roupagem, que é outro desafio bastante cativante.
Vou fazer uma pergunta direta agora: Qual o objetivo das tuas composições Bruno?
Todas as minhas composições sempre tem um motivo emocional de existir, nenhuma delas é exibição gratuita, eu encaro como uma forma de reinterpretar lembranças e momentos do cotidiano.
O que penso em fazer é tentar traduzir isso em notas para me aproximar das pessoas, sou um péssimo cantor e muito desconfiado, então acredito que quando componho e toco minhas músicas, é o momento em que me considero mais honesto comigo e com todo mundo. As barreiras são quebradas.
O cotidiano é pesado, cansativo e eu acredito que se eu não compor, posso até ficar doente.
É uma forma de sobreviver ao século 21 que para mim é cheio de ilusões, conflitos e pequenas gotas de esperança.
Agora falando do controle do processo de composição, você pensa no efeito final, de que forma a tua música será escutada, por quem, e se a roupagem tem inserção? Ou o importante é a manifestação plena da tua alma e o que vier é lucro? Você se preocupa em fazer algo que possa ser apreciado e pra isso compôe de forma delineada, ou compõe e torce para que curtam, ou ainda essa preocupação não existe?
“Eu componho feito criança…”
Eu componho feito criança, vou brincando com uma melodia , depois vou harmonizando.
Esse ano em particular tenho feito composições e harmonias bem mais ousadas.
Quem me chama a atenção para refletir é o Nelson Faria, que também é uma espécie de “conselheiro”, ele dá um toque sobre a questão de dar mais unidade ao que faço no sentido de não virar uma colcha de retalhos, mesmo que eu queira misturar os estilos.
De maneira geral eu quero provocar ouvintes de música/músicos de diversos gêneros.
Outro aspecto, o que me motiva é ver uma geração curiosa e que vem buscando um pouco da nostalgia setentista, onde os músicos eram muito criativos e se viravam para tocar de tudo um pouco.
Eu sei que o público instrumental não é muito grande, mas acredito que quem gosta de música instrumental vai ouvir…
Aqueles que ainda estão muito presos aos padrões da mídia ficam curiosos com a sonoridade, pois saí do formato que eles estão acostumados. Acho que esse é o momento de mostrar a cara e ver no que vai dar. Eu reparo isso em shows, já consegui colocar 120 pessoas em um bar de médio porte, onde estava rolando no mesmo dia covers de bandas de Hard Rock, com pessoas dizendo: “Quero ouvir mais instrumentais.” … e comprando cd´s. Vejo isso como um sinal positivo de que de alguma forma estão todos de saco cheio da mesma fórmula.
A música independente cresce a cada dia!
E a sua atuação no mercado musical, que outras atividades você exerce?
Além de ter o meu trabalho instrumental, dou aulas particulares de guitarra e música, acompanho uma cantora de Mpb e pop, fiz jingles e faço freelancer quando aparece uma proposta interessante.
O problema as vezes é conseguir organizar os horários. A coisa que você já deve ter passado e eu realmente já fiquei bem exausto, é ter uma gravação domingo pela manhã… essa é de matar.
“…gravação domingo pela manhã… essa é de matar.”
Hoje em dia com o acesso direto e fácil a informação usando veículos como a internet, revistas especializadas, entre outras coisas, a guitarra tem conquistado um número ainda maior de adeptos. Pessoas que tocam por hobbie e outras que sonham em um dia viver dela. Mas o número crescente de entusiastas não tem necessariamente convertido num número maior de profissionais do meio. O que você acha que falta para a música se consolidar como uma profissão séria e de futuro?
Eu acho que o primeiro ponto que me incomoda é o sujeito que eu considero: “guitarrista de final de semana”, subir em um palco, alugar um espaço, chamar o pessoal do trabalho e ter a cara de pau de dizer que é “músico”.
Ou aquele sujeito que toca em um bar em um clima desafinado, a fim de ter contato com algumas mulheres e dizer que é “músico”. Será que música é isso? É Fetiche, diversão de final de semana? Programas de Tv? “Pode até ser” em um determinado momento, mas em termos profissionais, a densidade e as exigências são bem maiores…
“Será que música é isso? É Fetiche, diversão de final de semana?”
Outro ponto questionável:
Ver órgãos públicos, como aqui no Brasil, onde o critério é totalmente deixado de lado e se ganha uma carteira que não lhe dá garantias e nenhum tipo de privilégio. Como assim?
E as escolas caça níquéis ou faculdades de música em que se passam 40 min de aula fazendo Yoga? Se for para fazer isso eu faço Yoga em casa.
Isso deixa a profissão com uma concepção frouxa, pois eu fico pensando, se exigem dedicação e respeito para advogados, engenheiros ou médicos que, estudam no mínimo 10 anos, o músico, não precisa estudar? Ouvir música? Tirar música? Aprender música? Ler sobre música? É só chegar ali e dizer: “Vamos fazer um som?”.
Então se fossemos inverter a situação, eu poderia advogar e fazer papel de “advogado”, “médico”? Isso seria justo?
Isso é muito preocupante!
Colocar um vídeo no Youtube, ou querer ser capa de revista de guitarra, me perdoe, mas parece sonho de “modelo”. Isso não lhe faz profissional, você pode ter talento, mas acho importante lapidar e amadurecer esse contexto. Tem momentos que vai pintar uma “GIG” que você pode não gostar do som, mas por mais que ame a música, é importante comer algo, não? São escolhas!
Acho que ainda existe esse fetiche no mundo de que o músico fica lindo no palco, mas quando sai do palco, pronto, acabou a festa, é hora de “levar a vida a sério”.
Mas, peraí…há uma dedicação e gente séria correndo atrás, isso talvez seja levado em consideração por algumas pessoas, e principalmente por: você!
“Acredito que o ponto primordial é o respeito e a conscientização…”
Acredito que o ponto primordial é o respeito e a conscientização de que ser músico é tão importante quanto ser um advogado, e que trabalha tanto quanto. É uma forma de dizer e educar as pessoas que isso é uma profissão séria, e para quem quer ser profissional de música, também.
Quanta gente já ouviu de uma namorada ou mulher/parentes dizerem que isso não dá futuro, que é mal visto, mal pago?
Parcela disso é verdade, mas se você não respeitar e não se dedicar a música e ficar ouvindo blá blá blá de pessoas, realmente não se chega a lugar nenhum.
Acho que todo mundo poderia fazer uma Tour com músicos profissionais, escolas sérias e faculdades de música, para ter uma idéia do que acontece.
Poderíamos dizer que o músico profissional se destacaria dos demais por oferecer um produto resultado da sua competência e anos de dedicação. É um pacote completo, a qualidade do que é feito aliada a forma com que o som é apresentado. Mas um dos problemas é o mau profissional, aquele que nunca estudou direito, que se relaciona profissionalmente de forma desleixada, que toca por nada. Quem sabe a diferença afinal, já que vivemos num país onde a cultura não está ao alcançe de todos? Onde o acesso a qualidade ainda é restrito.
Como você consegue equilibrar a tua carreira musical entre ganhar para sobreviver e manter a ética profissional?
Eu tento ser honesto em relação ao que estou ouvindo e vendo, se eu acho que tem algo que não está soando bem, eu costumo dizer: “Olha, eu acho que determinada passagem não me soa tão bacana”, e justifico musicalmente o que pode incomodar.
Dou liberdade para outros músicos, não gosto de travar, nem de tocar igual ao CD, deixo cada um explorar a sua criatividade. Eu aprendi a fazer música assim, ainda mais quando existe prática em conjunto.
Não acho que tudo que digo é 100% válido, mas existem casos que com o tempo ficam fáceis de entender que não vão levar a lugar nenhum, literalmente.
Dois exemplos me vieram na mente e os considero irônicos:
Quando toquei a alguns anos atrás em uma “Gig” de Coral. É complicado inserir um violão/guitarra e ainda mais com tensões, mas me foi cobrado uma harmonia com essa concepção seguido das palavras: “Vamos fazer um versão diferente para esta música!”.
Como o coral era muito amador, eu fiquei com muito medo de cantarem notas que não estavam na música e chocar com o resto e salve-se quem puder.
Preferi não abusar…
Quando fui tocar a música com o coral, ela ficou chocando o tempo inteiro e todos rindo e felizes e eu querendo me suicidar (risos).
Ninguém ali foi estudar a música, o famoso b9 (bemol 9) rolou direto e eu fiquei com cara de pastel, pensando que se eu simplificasse um pouco mais, teria como ser cantável para as pessoas presentes, mas o problema não era a harmonia… até pensei em fazer algo atonal, já que era “qualquer nota”, mas ia ficar muito barra pesada.
Ao final o “maestro” veio me dizer que estava: “lindo”.
Talvez daqui a uns 200 anos seja o som que as pessoas procurem, mas tive que ter um certo jogo de cintura e dizer a ele que era importante fazer uma “manutenção musical”.
“Teve situações que eu não podia falar nada, se eu falasse me tiravam da Gig.”
Teve situações que eu não podia falar nada, se eu falasse me tiravam da Gig. E eu percebi que não ia adiantar conversar sobre… é o tal do Ego!
Já ouvi um sujeito me dizer que Ré Diminuto é igual a: Ré Bola.
Eu até brinquei: “Calma aí, eu não danço no É o Tchan para rebolar”. Mas o absurdo foi a insistência em dizer que era aquilo e dane-se o resto.
Acho importante analisar vários quesitos: Horários, cachê, forma de trabalho, repertório.
Infelizmente no mercado de música existem muitas ciladas e profissionais não preparados, o que eu acredito que em outros locais do mundo a coisa me soa mais organizada, pelo menos em alguns locais eu sei que são.
Não sou do tipo que acha que tem que ser do meu jeito, mas gosto de provocar reflexões sobre o que está sendo tocado, puxo todo mundo para esse estado de espírito. Tem casos que eu nem prefiro me arriscar em tocar, pois a dor de cabeça vai ser tão grande, que não compensa.
Outra coisa, tem pessoas que tocam bem, mas eu não gosto do som. Tocar bem não significa que eu goste! Isso também é outro problema a ser enfrentado.
“Tocar bem não significa que eu goste!”
Agora vou provocar uma pergunta que não quer calar. Se o Naldo ou outras pessoas que estão na mídia lhe convidassem para tocar por um bom cachê, você toparia?
A minha resposta é sim. Nesse momento há uma diferenciação entre o lado profissional e pessoal, não é uma questão de se vender a isso ou aquilo, é trabalho! E se tiver uma boa infra estrutura e a coisa for séria, é uma oportunidade.
Isso não é uma exclusividade da música, o seu dentista pode não gostar tanto de você, mas ele tenta fazer o possível para ser competente no trabalho, afinal se ele não o fizer, o filme dele vai estar queimado na praça.
Ninguém é obrigado a aceitar trabalhos e existem limites para isso, mas só dá pra saber em alguns casos… arriscando.
Isso mesmo, acredito que é essa atitude que separa o profissional do amador entusiasta. Você tem alguma projeção para a tua carreira musical? Tem planos concretos e objetivos claros ou ainda está vivendo o momento, vendo onde as oportunidades irão te levar?
Desde que comecei a preparar o meu primeiro CD eu sempre tive em mente que o meu objetivo é me fortalecer e permanecer no cenário de música instrumental, seja para que lado a minha carreira me levar. Eu tenho essa concepção como base.
Não tenho planos e nem procuro ser um “astro da música”, procuro reconhecimento, respeito e ganhar meu dinheiro honestamente.
E quais os teus planos para o futuro próximo? Que projetos você está desenvolvendo?
Penso em 2015 lançar um DVD ao vivo, com algumas composições e releituras.
Compor cada vez mais e obter parcerias, e em breve dar aulas em uma escola de música. E mais para frente arriscar uma licenciatura para universidade e pesquisar sobre musicoterapia.
E sempre tentando me aprimorar na música e pesquisando cada vez mais, mas cada coisa no seu tempo. Isso vai depender muito de como vou organizando os tópicos, mas a princípio tenho esses planos.
Alguma colocação final?
As dificuldades que a estrada oferecem são para todos os gêneros musicais, ainda mais se tratando de música instrumental. O músico deve manter firme a sua conduta e respeitar-se, conseguir uma parceria com as casas e eventos para que possa fazer seu trabalho dignamente.
Bruno, muito obrigado pela entrevista e tenho certeza que teus planos serão transformados em música. Continue a fazer o que faz de melhor, que é criar e compartilhar um pouco do teu mundo para o resto do nosso mundo. Um grande abraço!
Eu que agradeço Denis, foi muito bacana poder avaliar e passar um pouco do que aprendi com música! Um grande abraço.
Site Oficial: http://www.brunolara.mus.br
Blog: http://oqueeissobrunolara.blogspot.com.br/
Equipamento:
Guitarras
- Fender Strato Highway one com Dimebucker na ponte e JB no braço.
- Fender Artist Series: Jeff Beck.
- Fender Esquier Telecaster (para Slide)
- Violão de Nylon: Eagle Modelo – CH-800NT
- Cordas Elixir 010
Amplificadores
- Vox AC30
- Vox AC15 VR
Efeitos
- Ibanez TS 808
- RAT – Proco
- Boss Digital Delay DD3
- Boss Super Chorus
- Reverb do amplificador
Hey Jeff (DVD Urbania):
Os Delírios de Freud (Ao vivo no Mofo Lapa):
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